Inédito: “Você tem experiência?”
Professora Elisete Gadotti envia uma profunda reflexão sobre uma experiência como professora. O texto é longo, mas merece leitura e análise. Confira: “Moacir: Todas as vezes que procuro no seu blog informações sobre nosso movimento, fico imaginando o que pode pensar um jornalista quando recebe tantos textos, manifestações de apoio e até comentários desagradáveis, sobre uma categoria com tantas razões para lutar e ao mesmo tempo nem sempre entendida na sua busca. Mas o que mais me deixa satisfeita é saber que seu trabalho esta unindo numa só corrente professores do sul e norte, do leste e do oeste de Santa Catarina não só na luta mas também na possibilidade de ser informado quase em tempo real dos fatos ocorridos neste incansável trabalho do SINTE e Comando de Greve, junto a intransigência do Governo Colombo. Criticas sempre irão surgir, mas com certeza teremos maturidade para analisar, concordar, discordar sem ofender..
E-mail deveriam ser breves, rápidos mas não consegui conter minha vontade de falar, escrever e encaminho para você o texto que hoje elaborei:
No processo de seleção de várias empresas, os candidatos precisam responder a seguinte pergunta:
‘Você tem experiência’?
O texto abaixo foi adaptado por mim, de uma redação verdadeira desenvolvida por um dos candidatos a cargo em uma grande empresa. Ele talvez tenha sido aprovado e seu texto está fazendo sucesso, e eu refletindo sobre esse texto coloquei aqui a minha experiência enquanto professora da rede estadual de educação de Santa Catarina.
Esta é a minha versão sobre o tema EXPERIÊNCIA:
Já desafiei o meu Pai e insisti em fazer curso superior na área de Educação.
Já aprendi com meus mestres da FURB – BLUMENAU, inúmeras práticas para trabalhar com Ed. Física, sempre com o melhor material.
Eu já peguei carona com várias pessoas em Blumenau para chegar ao local das aulas sem custos e sem atrasos. E assim consegui me formar em 1985, com muito estudo, esforço e determinação. Usando como espelho os meus professores do ensino fundamental e médio.
Já trabalhei em diversas escolas como ACT, até me efetivar por concurso na rede estadual de educação.
Já vibrei com o aluno que conseguiu pela primeira vez pular num pé só ou pular corda pela primeira vez.
Já vibrei junto com as professoras das séries iniciais, quando os alunos conseguiram ler as primeiras sílabas, e muito mais quando conseguiram escrever as primeiras palavras sozinhas.
Já corri para não perder o ônibus, para chegar no horário na escola.
Já passei do ponto muitas vezes, por ter dormido no ônibus.
Já tomei banho de chuva junto com meus alunos no pátio da escola, jogando bola.
Já almocei durante vários anos na escola.
Já trabalhei 60 horas.
Já fui diretora de escola, onde comunidade e escola caminhavam no mesmo sentido.
Já vendi rifa, bingo, já fui levar alunos para passeios de formatura em Hotel Fazenda.
Já fui a velórios de pais e avós de alunos e até de ex-alunos. E o mais doído, já fui a velórios de alunos.
Já levei alunos para competições, já subi em telhado para tirar bola, para arrumar telhas. Já subi em escadas para pendurar bandeirinhas de festa junina, e já coreografei várias danças.
Já trabalhei na APAE, e levei os alunos para competições onde ficaram alojados fora de casa.
Já organizei Corrida da Amizade, onde a pessoa dita normal corria ou acompanhava o portador de necessidades especiais no percurso estabelecido
Já comprei uniforme para dar aos meus alunos, já coloquei meu carro a disposição deles para não perder horário de competições.
Já participei de campanhas de alimentos para alunos carentes e até para professores.
Já fui buscar aluno em casa.
Já fui pegar aluno gazeando na rua.
Já chorei ouvindo a história de vida de meus alunos.
Já esqueci o nome de muitos alunos…
Já conheci os filhos dos meus alunos e até já dei aula para eles.
Já subi em árvore com meus alunos para pegar fruta.
Já tomei soco de aluno e ouvi do promotor público: “Ele é de menor”, não dá para fazer nada.
Já pensei em chutar o balde e desistir.
Já chorei sentado no chão do banheiro da escola, quando meu pagamento veio errado.
Já li mensagens do tipo: “Antes que chore a minha mãe, que chore a sua”.
Já enfrentei diretoras impostas pelo Governo, já organizei eleição de Diretores, Grêmio e Conselho Deliberativo.
Já comprei cuecas para alunos se trocarem, pois a GERED não licitou papel higiênico.
Já fiz denúncia para ouvidora do Estado e nada foi resolvido.
Já procurei o Ministério Público para denunciar obra da quadra inacabada e ainda não montei o processo.
Já vi meus amigos de profissão em greve (2008) e eu cumprindo horário.
Já vi traficantes na frente da escola, e quando busquei o apoio da Polícia e do Conselho Tutelar não tive respaldo.
Já vi meus alunos envolvidos com drogas… E muitas vezes sem força e apoio para tirá-los.
Já vi meus alunos adolescentes bebendo e fumando sem medo e nem responsabilidade…
Já separei briga de alunos, alunas e até de pais…
Já vi meus alunos dirigindo carro próprio…
Já senti medo de aluno e já enfrentei muitos.
Já os defendi em muitas situações.
Já socorri vários alunos machucados e com fraturas.
Já apostei corrida na praia com meus alunos, já joguei queimada, futebol, vôlei, handebol e basquete com meus alunos.
Já participei de gincanas, passeatas, manifestações.
Já precisei driblar paixões de alunos e alunas.
Já fiz material de sucata, para ser usado por alunos.
Já trabalhei com muito material disponível e com nada para trabalhar.
Já trabalhei em pátio de chão batido, grama, na rua, na praia e em quadra. Mas nunca trabalhei em local fechado, sempre em local aberto. E com isso já passei frio, já me queimei com o sol, já vi trovões e muita chuva.
Já dei aula em sala e no refeitório…
Já fiz escolinha de xadrez e levei meus alunos para competições.
Já fui chamada de Dona,de Profê, e até de Pro.
Já vi meu alunos acordarem as 3horas da manhã para recolher material reciclado, trabalhar até as 12:00 e estudar no período da tarde.
Já vi pais tirando alunos da escola para irem trabalhar…
Já vi alunos desanimados e sem objetivos…
Já vi pais irresponsáveis…
Já vi alunos chorarem pelo primeiro amor…
Já deitei na quadra com meus alunos para ensinar elefantinho, aviãozinho e outras artes mais
Já chorei ao ver amigos partindo da escola ou mesmo desta vida.
Já vi meus colegas chorando pelos filhos doentes, pelos filhos partindo.
Já acompanhei amigos de profissão lutando contra câncer, depressão e outros males. Eu mesma luto contra Síndrome do Pânico.
Foram tantas experiências, momentos fotografados pelas lentes da emoção.
E agora ao ler este e-mail fico pensando, relembrando essas experiências e os anos dedicados à educação e só uma pergunta ecoa no meu cérebro: experiência… experiência… Será que é necessário ter experiência?
Será que ainda vale a pena sonhar …
E encerrando esta releitura do texto preciso perguntar:
EXPERIÊNCIA PARA QUE?
SERÁ QUE ESCOLHI A PROFISSÃO ERRADA?
CURSOS, FORMAÇÃO CONTINUADA PARA QUE?
Como fiz a releitura de um texto que recebi, usei o mesmo na primeira pessoa, mas minha experiência não seria nada sem os colegas de Profissão: professores, especialistas, serventes, merendeiras e direção.
Será que um dia Educação será prioridade para algum governante desse Estado?
Será que são os professores que estão errados?
Será que a experiência que temos, que vivemos será desconsiderada e transformada em poucos reais?
Sinceramente….
Profª Elizete Ana Gadotti,E.E.B. Anita Garibaldi,Meia Praia – Itapema.”
E-mail deveriam ser breves, rápidos mas não consegui conter minha vontade de falar, escrever e encaminho para você o texto que hoje elaborei:
No processo de seleção de várias empresas, os candidatos precisam responder a seguinte pergunta:
‘Você tem experiência’?
O texto abaixo foi adaptado por mim, de uma redação verdadeira desenvolvida por um dos candidatos a cargo em uma grande empresa. Ele talvez tenha sido aprovado e seu texto está fazendo sucesso, e eu refletindo sobre esse texto coloquei aqui a minha experiência enquanto professora da rede estadual de educação de Santa Catarina.
Esta é a minha versão sobre o tema EXPERIÊNCIA:
Já desafiei o meu Pai e insisti em fazer curso superior na área de Educação.
Já aprendi com meus mestres da FURB – BLUMENAU, inúmeras práticas para trabalhar com Ed. Física, sempre com o melhor material.
Eu já peguei carona com várias pessoas em Blumenau para chegar ao local das aulas sem custos e sem atrasos. E assim consegui me formar em 1985, com muito estudo, esforço e determinação. Usando como espelho os meus professores do ensino fundamental e médio.
Já trabalhei em diversas escolas como ACT, até me efetivar por concurso na rede estadual de educação.
Já vibrei com o aluno que conseguiu pela primeira vez pular num pé só ou pular corda pela primeira vez.
Já vibrei junto com as professoras das séries iniciais, quando os alunos conseguiram ler as primeiras sílabas, e muito mais quando conseguiram escrever as primeiras palavras sozinhas.
Já corri para não perder o ônibus, para chegar no horário na escola.
Já passei do ponto muitas vezes, por ter dormido no ônibus.
Já tomei banho de chuva junto com meus alunos no pátio da escola, jogando bola.
Já almocei durante vários anos na escola.
Já trabalhei 60 horas.
Já fui diretora de escola, onde comunidade e escola caminhavam no mesmo sentido.
Já vendi rifa, bingo, já fui levar alunos para passeios de formatura em Hotel Fazenda.
Já fui a velórios de pais e avós de alunos e até de ex-alunos. E o mais doído, já fui a velórios de alunos.
Já levei alunos para competições, já subi em telhado para tirar bola, para arrumar telhas. Já subi em escadas para pendurar bandeirinhas de festa junina, e já coreografei várias danças.
Já trabalhei na APAE, e levei os alunos para competições onde ficaram alojados fora de casa.
Já organizei Corrida da Amizade, onde a pessoa dita normal corria ou acompanhava o portador de necessidades especiais no percurso estabelecido
Já comprei uniforme para dar aos meus alunos, já coloquei meu carro a disposição deles para não perder horário de competições.
Já participei de campanhas de alimentos para alunos carentes e até para professores.
Já fui buscar aluno em casa.
Já fui pegar aluno gazeando na rua.
Já chorei ouvindo a história de vida de meus alunos.
Já esqueci o nome de muitos alunos…
Já conheci os filhos dos meus alunos e até já dei aula para eles.
Já subi em árvore com meus alunos para pegar fruta.
Já tomei soco de aluno e ouvi do promotor público: “Ele é de menor”, não dá para fazer nada.
Já pensei em chutar o balde e desistir.
Já chorei sentado no chão do banheiro da escola, quando meu pagamento veio errado.
Já li mensagens do tipo: “Antes que chore a minha mãe, que chore a sua”.
Já enfrentei diretoras impostas pelo Governo, já organizei eleição de Diretores, Grêmio e Conselho Deliberativo.
Já comprei cuecas para alunos se trocarem, pois a GERED não licitou papel higiênico.
Já fiz denúncia para ouvidora do Estado e nada foi resolvido.
Já procurei o Ministério Público para denunciar obra da quadra inacabada e ainda não montei o processo.
Já vi meus amigos de profissão em greve (2008) e eu cumprindo horário.
Já vi traficantes na frente da escola, e quando busquei o apoio da Polícia e do Conselho Tutelar não tive respaldo.
Já vi meus alunos envolvidos com drogas… E muitas vezes sem força e apoio para tirá-los.
Já vi meus alunos adolescentes bebendo e fumando sem medo e nem responsabilidade…
Já separei briga de alunos, alunas e até de pais…
Já vi meus alunos dirigindo carro próprio…
Já senti medo de aluno e já enfrentei muitos.
Já os defendi em muitas situações.
Já socorri vários alunos machucados e com fraturas.
Já apostei corrida na praia com meus alunos, já joguei queimada, futebol, vôlei, handebol e basquete com meus alunos.
Já participei de gincanas, passeatas, manifestações.
Já precisei driblar paixões de alunos e alunas.
Já fiz material de sucata, para ser usado por alunos.
Já trabalhei com muito material disponível e com nada para trabalhar.
Já trabalhei em pátio de chão batido, grama, na rua, na praia e em quadra. Mas nunca trabalhei em local fechado, sempre em local aberto. E com isso já passei frio, já me queimei com o sol, já vi trovões e muita chuva.
Já dei aula em sala e no refeitório…
Já fiz escolinha de xadrez e levei meus alunos para competições.
Já fui chamada de Dona,de Profê, e até de Pro.
Já vi meu alunos acordarem as 3horas da manhã para recolher material reciclado, trabalhar até as 12:00 e estudar no período da tarde.
Já vi pais tirando alunos da escola para irem trabalhar…
Já vi alunos desanimados e sem objetivos…
Já vi pais irresponsáveis…
Já vi alunos chorarem pelo primeiro amor…
Já deitei na quadra com meus alunos para ensinar elefantinho, aviãozinho e outras artes mais
Já chorei ao ver amigos partindo da escola ou mesmo desta vida.
Já vi meus colegas chorando pelos filhos doentes, pelos filhos partindo.
Já acompanhei amigos de profissão lutando contra câncer, depressão e outros males. Eu mesma luto contra Síndrome do Pânico.
Foram tantas experiências, momentos fotografados pelas lentes da emoção.
E agora ao ler este e-mail fico pensando, relembrando essas experiências e os anos dedicados à educação e só uma pergunta ecoa no meu cérebro: experiência… experiência… Será que é necessário ter experiência?
Será que ainda vale a pena sonhar …
E encerrando esta releitura do texto preciso perguntar:
EXPERIÊNCIA PARA QUE?
SERÁ QUE ESCOLHI A PROFISSÃO ERRADA?
CURSOS, FORMAÇÃO CONTINUADA PARA QUE?
Como fiz a releitura de um texto que recebi, usei o mesmo na primeira pessoa, mas minha experiência não seria nada sem os colegas de Profissão: professores, especialistas, serventes, merendeiras e direção.
Será que um dia Educação será prioridade para algum governante desse Estado?
Será que são os professores que estão errados?
Será que a experiência que temos, que vivemos será desconsiderada e transformada em poucos reais?
Sinceramente….
Profª Elizete Ana Gadotti,E.E.B. Anita Garibaldi,Meia Praia – Itapema.”
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