Jéferson Dantas[1]
As recentes reformas educacionais oficiais em nosso país nas duas últimas décadas, notadamente no campo curricular e no processo de formação docente, têm demonstrado a permanência de um modelo escolarizado público profundamente enraizado no etnocentrismo, ‘branquidade’ e sexismo, conforme estudos do teórico crítico estadunidense Michael Apple. Além disso, os sistemas públicos de ensino estão nas mãos de sujeitos pouco afeitos ao diálogo e, sobretudo, comprometidos com suas alianças partidárias. Em outras palavras – e Santa Catarina não foge à regra –, impera o fisiologismo político num setor que necessita de mudanças efetivamente estruturais.
Não é segredo para ninguém os lamentáveis índices de reprovação e de evasão em unidades de ensino em que boa parte de seu público escolar é proveniente das camadas sociais mais pobres. O desequilíbrio de capital escolar e de transmissão de bens culturais ou simbólicos para crianças e jovens em tal contexto é resultado de uma prática recorrente, i.e., em tais ambientes de aprendizagem estão concentrados/as os/as educadores/as mais despreparados/as para enfrentar tal realidade, não sendo raro o absenteísmo docente; produtividade escolar pífia; ausência de critérios de avaliação coadunados com uma prática educativa emancipatória e, fundamentalmente, pouquíssima valorização salarial da classe docente. Para os neoconservadores, é mais importante que as escolas assumam currículos desprovidos de dissenso e que a reprodução dos valores hegemônicos continue fazendo parte do desalentador cenário escolar que temos em nosso país.
O recente resultado do ENEM (Exame nacional do Ensino Médio) demonstrou mais uma vez que em tal ‘lógica de ranqueamento’ as escolas públicas quase sempre levam a pior. Isto não significa que os/as educadores/as não se esforçam, muito menos os/as estudantes. Todavia, não se pode ter uma educação de qualidade sem que outras questões sociais fiquem em segundo plano. Uma criança ou jovem desprovida de capital econômico e cultural é a que mais necessita do capital escolar. Mas, não por acaso é a que mais abandona a escola e a que mais tarde terá maiores dificuldades de empregabilidade. Nesta direção, o consenso educacional defendido pelos neoconservadores procura imprimir uma marca indistinta no que compreendem ser os ‘verdadeiros valores’ a serem ensinados, prescindindo as comunidades escolar e local de suas próprias escolhas teórico-metodológicas. Como nos ensina Apple, faz sentido um currículo oficial nacional num país de dimensões continentais como é o caso do Brasil? Ou melhor: faz sentido uma escola burocratizada, hierarquizada, verticalizada e usada como moeda de troca em conchavos eleitorais?
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